Mas você voltou, caminhando ao meu lado, e de preto novamente eu te pintei, mais escuro do que você jamais foi, para que cobrisse a minha visão, mais melancólica, mais fria, mais suja, e com você então eu fui mais só do que jamais fora.
E da minha solidão você bebeu, e de você mais um nasceu, e esse eu pintei com o veneno que sai da minha boca, das minhas palavras nasceu o verde, e deste te fiz, e para poluir minhas idéias para sempre ao meu lado andou também, e pelos meus caminhos sempre vocês me levavam.
E dos meus dois demônios juntos nasceu o terceiro, o veneno precisava de força, e a melancolia sozinha não era capaz de lhe dar, da negra angústia surgia a força para o veneno, a fúria outrora contida brotava dos meus poros, e da vermelhidão da minha pele nasceu o meu terceiro demônio. Me cortei, e do meu sangue pintei a tua força, te fiz de um rubro que cobria meus olhos. E com vocês três segui, em vocês me escondi. A toda hora vocês foram a minha companhia, e forma de me lembrar todos os momentos que eu estava só.
De tanto me acompanhar meus demônios viraram parte de mim, todo o caos que eles significavam virou minha rotina, minha melancolia e minha angústia se disfarçaram em um tédio impaciente. E dessa fleuma nasceu o demônio que me acomoda e tenta me impedir de sair do lugar, de branco lhe pintei em homenagem aos meus dias sem cor. E por todos os cantos eles estavam, gritando para mim os meus erros a todos os momentos, me mostrando que nada me restava, que eu já era preterido, e me envenenando com minha fúria e impaciência me impediam até de ouvir quem queria me falar. E aproveitam que me tiram a fome e sentam à mesa para jantar, enquanto conversam amenidades.