quarta-feira, 22 de abril de 2009

Aprendendo a voar.

Baby, me dá uma carona?
Abra minhas asas e me faça voar como pedra chutada, como bala cruzada, voar para o tudo e para nada.
Quanto mais alto o voo menores as diferenças, menor a importância.
Mais alto, mais longe da terra, mais liberdade, menos medo.
Insegurança não existe mais, não há nada importante deixado para trás, nada é mais importante que o seu voo.
Seu único voo, apenas seu, de mais ninguém.
Quanto mais alto o voo, maior a queda.
E que se voe tão alto que a queda seja fatal.
Se a queda não for o fim, aquele não foi o seu voo.
A queda é um mergulho, é parte do voo, talvez a parte mais importante, independente disso é a última, é veloz, feroz, vertiginosa, bela e cruel.
Não há mais nada para decidir, só há você, e a única segurança que você jamais teve em sua vida, o fim.


Baby, come with me
Let's have a drunk flight

domingo, 19 de abril de 2009

Deixar a onda levar.


"Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou um dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros por mês"



Ultimamente eu ando meio arrependido de algumas coisas. Da minha consciência política,
das minhas exigências, de pensar demais em algumas coisas. Mas eu não consigo deixar de
fazer essas coisas, não consigo deixar de ser a areia da engrenagem para me tornar um grão de sal no mar de gente.


"Eu devia agradecer ao Senhor
Por ter tido sucesso na vida como artista
Eu devia estar feliz
Porque consegui comprar um Corcel 73
"


Personalidade é uma coisa estranha, tu vai achando legal no começo, começa a se sentir diferente, percebe que os teus gostos são diferentes dos da maioria, até fica meio arrogante, passa a não entender como essas pessoas “comuns” conseguem levar essas vidinhas de merda. Começa a criticar ditadura, democracia e aristocracia, e acha todas elas erradas, tão erradas quanto você mesmo.


"Eu devia estar alegre e satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado fome por dois anos
Aqui na Cidade Maravilhosa"



Aí então começam as crises. Teus ídolos se revelam humanos, e isso te decepciona, mas aprende a aceitar. Não há mais sentido em ver televisão, a mídia é corrupta, a arte está prostituída, as músicas não são mais feitas para exprimir alguma coisa, elas existem pra seguir tendências e vender, e aí então você começa a odiar o capitalismo, vira fan de bandas underground que distribuem suas canções pela internet, para então virar-lhes as costas assim que tocarem na rádio.


"Ah! Mas que sujeito chato sou eu
Que não acha nada engraçado
Macaco praia, carro, jornal, tobogã
Eu acho tudo isso um saco



E ai tu começa a duvidar de Deus, que tu sempre aprendeu que te criou, vigiou e essas coisas todas. Depois de ter entendido “tudo” sobre Darwin e Nietzche não faz sentido nenhum acreditar em Deus, afinal a Igreja queimou tanta gente graças a essa existência.


"É você olhar no espelho
Se sentir um grandessíssimo idiota
Saber que é humano, ridículo, limitado
Que só usa dez por cento de sua
Cabeça animal
E você ainda acredita que é um doutor, padre ou policial
Que está constribuindo com sua parte
Para nosso belo quadro social
"


Mas aí você pensa um pouco, e percebe que esse seu estilo alternativo está longe de ser único, ele pode não ser a moda da mídia, mas no fim das contas ele é uma moda. No fim das contas, talvez você não, mas boa parte dos fanzinhos dessas bandas underground que você escuta não entendem nada da música, estão ali para ser alternativos, o que não deixar de ser um modismo da anti-moda. Começa a ver que a sua visão religiosa, ou anti-religiosa também não é 100% correta, percebe que os políticos não são pessoas totalmente ruins, assim como os seus antigos ídolos não eram, e no fim das contas todos são humanos como você, e essa é a única coisa absoluta. E aí começa o relativismo, tu senta em cima do muro e para pra pensar, e percebe que as tuas idéias não são absolutas, que a sua honestidade, e nem a de ninguém, é absoluta, que a sua visão de mundo é limitada, e que bem e mal, certo e errado, e a maior parte dos opostos, estão todos longe de serem absolutos.


"Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada cheia de dentes
Esperando a morte chegar"



Opostos não são absolutos, chegando nesse ponto você pode voltar a ouvir algumas músicas das rádios (nem todas são ruins, mas a maioria realmente não vale um tiro, mas não é tocar na rádio que as faz ruins). Toda aquela carga “alternativa” que te oprimia não existe mais, e você pode gostar do que realmente gostar, gostar sinceramente. As coisas começam a andar bem, você se sente livre, e cada coisa nova é excitante, cada possibilidade nova merece ser avaliada e parece que nada mais te limita. Porém nem essa sensação é absoluta e você acaba descobrindo que tudo isso tem um preço.


Chega uma hora que a vida dá uma volta tão grosseira quanto os versos que você odeia nessas músicas fúteis. Aí você tão acostumado a pensar começa a pensar demais, começa a pensar em possibilidades para melhores, porquês e porquês sem fim, tua paz vira tumulto, tua tolerância é pisoteada e você deseja que a onda te leve.
Deseja ser normal, está cansado de pensar. Pra que pensar se é mais fácil só reagir a tudo (frase da música Noites de outros dias -7, cidadão quem). Dá uma puta vontade de votar no partido da maioria (que muda a cada eleição), não dá mais vontade de ler, não da mais vontade de fazer nada, parece que você já tem muitas coisas na cabeça, mais do que é capaz de gerênciar, e fica de saco cheio de todo o resto.
Mas pelo menos pra mim a música nunca deixou de ser uma coisa sincera, uma luz amena no cinza pesado do céu, e talvez por ela eu não vá me tornar uma pessoa normal.

Mas a verdade, é que trilhar seu próprio caminho tem um preço:

Não há volta.

Mas pensando bem não quero trocar minha personalidade por ouro de tolo, felicidade vazia, e outras afirmações que minha arrogância (que vai bem, obrigado) me permitem fazer.


E agora lembrando de tudo isso, não me sinto tão arrependido assim.



*Trechos destacados da música Ouro de Tolo (Raul Seixas)

domingo, 5 de abril de 2009

Yoko

Hoje eu sai pra caminhar, eu não conseguia parar de andar, mas não sabia para onde ir, sabia que não tinha onde ir, mas ainda assim não conseguia ficar parado.
Meu corpo todo tremia, a decepção era comparável, talvez, àquela de quando sua vó te presenteava com cuecas no natal. A cada passo a decepção aumentava, a cada passo a verdade parecia mais cruel, e mais verdade, mais intensa, mais interna, se fechando em um pequeno ponto no abdômen, como se um big bang fosse acontecer em mim, e a duras custas eu impedia.

Minhas pernas trêmulas, meu caminhar perdido, minha ânsia por achar algum lugar vazio eram reflexões da minha decepção, hoje foi o dia que me descobri visível, mortal, normal, comum. Eu não conseguia simplesmente sumir, por mais que eu quisesse, por mais que a cada passo eu tentava, eu não conseguia desaparecer, ser invisível, e a minha incapacidade de fazer as coisas ao meu gosto me decepcionava cada vez mais.

Eu me decepciono cada vez que eu vou dormir e percebo que poderia ter feito algo que não fiz, cada vez que projeto algo e esqueço isso, ou não dou a devia importância, ou simplesmente tenho preguiça de concluir, ou tentar.

Mas eu tenho uma qualidade, eu sou paciente, apesar da minha incapacidade para tudo eu consigo me perdoar, e até projetar novos vôos, novas idéias, novas possibilidades, algumas impossibilidades para que eu me decepcione um pouco mais, e volte a projeta-las depois.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Breves Esperanças

Resistir é fútil.

Uma hora você também vai acabar sendo assim como nós, no começo é realmente difícil, você ainda lembrará de todas aquelas noites. Das noites em que o absurdo visitava sua mente e levava seu inconsciente a uma viagem sem sentido, e que apesar disso, eram os momentos mais livres de sua vida.

Mas também existem fatores positivos, veja bem, a falta daquela liberdade, impedirá que na manhã seguinte você sinta as correntes apertarem seus punhos, você pode não acreditar, mas quando você se libertar dessa liberdade, aí sim você entrará definitivamente no que é a vida, verdadeira apesar de cruel.

Eu sei que não parece nada bom, acredite, eu não gostaria que fosse assim, eu daria qualquer coisa para ter de volta tudo aquilo, mesmo quando você nem lembrava direito da última noite, mesmo quando tudo era tão difuso, e por mais que você se forçasse a lembrar nada restava, nenhuma lembrança, apenas uma sensação, uma estranha tristeza, um pesar por estar de volta nesse mundo, e ainda sentir uma veia de liberdade pulsando em seu corpo. Não ache também que eu não lutei por eles, mas uma hora você não agüenta mais, uma hora as correntes começam a perfurar sua pele, e não te deixam mais dormir, chega à hora em que o seu suor já é sangue, e a sua cruz pessoal pesa em suas costas, nessa hora tudo se torna realmente mais difícil, e por mais que não eu queira desfazer-me deles, eles acabam criando um contraste agonizante com tudo que o realmente cerca.

Agora que eu toquei no assunto eu me lembro de quando eu ainda era capaz de lutar por eles, naquele tempo eu achava que nunca me entregaria, que encontraria a chave para abrir as minhas correntes, e aquele pensamento era tão confortante que parecia que eles me acompanhavam por todo o dia, e por mais que tudo fosse frio ao meu redor eles me aqueciam, acalentavam meu coração, e me punham suavemente em seu prazeroso consolo inconsciente.

Essa coisa e não se entregar jamais é algo realmente belo, especialmente quando você realmente é capaz de acreditar nisso, como eu já fui, hoje em dia eu não acredito mais, porém lembrar daquele tempo ainda me conforta um pouco.

Eu posso ver nos seus olhos um brilho que outrora já ouve nos meus, perdoe-me as lágrimas, mas é duro perceber no que eu me tornei, e mais duro é pensar que você também será como eu, mas eu já estou me sentindo culpado, estou tentando acabar com as suas esperanças, não é culpa minha, acredite, eu queria poder te dar mais esperanças, mas eu não possuo nenhuma mais para lhe dar.

Mas vá, me deixe falar sozinho, lute por você, eu acho que talvez ver o seu rosto jovem e imaculado me deixe um pouco mais feliz, talvez porque eu possa me ver e saber que já fui como você, se quiser um conselho, não se entregue, lute até o fim, mesmo sabendo que o fim já vai chegar, e se algum dia você encontrar as chaves que abrem as correntes ajude também quem estiver próximo a você, não peço nada para mim, mas se lembrares e puder me ajudar também, eu lhe seria realmente grato, não que eu acredite de verdade e vá esperar que você me traga a minha chave, mas olhar para você me da uma vontade de ir em busca da minha, afinal um olhar brilhante e jovem como o seu traz muitas lembranças, e também um breve facho de luz na minha escuridão pessoal, e acima de tudo, uma saudade, e uma vontade de ter meus sonhos de volta.