quarta-feira, 21 de julho de 2010

3. Ainda antes do ínicio - A chegada do construtor.



João trabalha na construção civil. E se tem uma coisa que João não dispensa, é tomar uma cerveja na sexta-feira. Mas como os botequins habituais fecharam, João voltava para casa cheio de rancor, achando que o mundo conspirava contra ele. No caminho, se deparou com um novo bar. O bar tinha uma cara estranha, provavelmente estaria cheio de gente metida e a cerveja seria cara, mas ele entrou assim mesmo. A essa altura ele pagaria qualquer coisa, e aturaria qualquer tipo de pessoa, por uma cerveja. Se ele soubesse o que o esperava dentro do lugar talvez deixasse essa cerveja pra lá.
Entrou, sentou-se a uma mesa qualquer, e ficou pensando numa janela que gostaria de fazer na sua casa, enquanto aguardava o atendimento. Olhando ao redor se deu conta que em uma mesa do canto uma menina parecia jogar damas com um gato branco, e que o barman (um sujeito bem estranho) não parecia fazer a menor questão de atendê-lo. Isso deixaria João realmente irritado, mas o lugar era tão entediante que tirava até a vontade de ficar enfurecido. Voltou então a pensar em sua janela, que era o melhor que ele podia fazer, quem sabe daqui a pouco ele fosse atendido.
Mas não foi, então João percebeu que estava sentado no bar há um bom tempo, o barman continuava no mesmo lugar, possivelmente na mesma posição, a menina já havia se retirado, e ele não conseguia ver o gato. Quando João fazia força para novamente tentar refletir sobre o que estava fazendo, e por que não ia embora dali, o gato branco pulou sobre sua mesa, João encarou por alguns momentos seus olhos estrábicos, e travaram então o primeiro diálogo dessa história com mais de uma fala.

- Olá, boa tarde, como vai? - Falou o gato meio miando meio falando, mas se fazendo entender com muita elegância
- Bem, e você?
- Estou ok - Se limitou a responder, o gato.
- Como assim ok?
- Simplesmente ok, não há nada de errado comigo.
- Que bom, entao, eu acho.
- Acho que sim. Se não for bom, ao menos não é ruim.

A conversa estava um tanto confusa, mas João levou em frente.

- O que é bom. Não ser ruim é bom, nao é?
- Não necessariamente, talvez seja simplesmente normal.Embora, às vezes, o ruim pareça ser o normal.
- De qualquer forma é melhor estar normal do que estar ruim, não?
- Penso que sim. Desde que para mim o ruim não seja o normal, senão seria ruim de qualquer maneira.

Enquanto seu cérebro se dividia entre refletir se já era hora de apenas sorrir concordando e tentar acreditar que estava realmente falando com o gato - sem muito esforço em nenhuma das direções - o gato desceu da mesa e sumiu, não demonstrando muito interesse em saber quem era o sujeito à mesa.




Funcionou. Ainda não estava nas mãos d'O mago controlar o bar para viajar para lugares específicos, mas ele conseguiu deixa-lo no caminho da pessoa de que precisava. Embora ele não tivesse certeza de como fez isso, agora não importava. O homem é um construtor, sem dúvidas, e ele irá construir a janela para O mago. Só precisa ser convencido disso.
Mas por enquanto, ele continua esperando a sua bebida.

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